Viver no mundo sem ser o mundo
Pergunta – Como é que a gente faz
para viver num mundo e conviver com pessoas com as quais sabemos que não nos
identificamos mais? Sei que isso é o ego que julga e separa tudo. Mas eu olho
para essas pessoas e para a vida do passado e sei que não pertenço mais a isso
mas, ao mesmo tempo, não possuo um esclarecimento não intelectual. Como fazer
para viver exatamente no meio, entre a vida que não reconhecemos mais como
nossa e aquilo que imaginamos ser nosso objetivo, uma clareza de espírito?
Monge Genshô – As identidades que
temos ao longo da vida são criadas pela mente. Nós sustentamos situações que
vamos criando, vamos codificando e criando. Mesmo quando falamos sobre o Zen em
nossa vida, também sustentamos identidades. Criamos nomes, forma, amigos, roupas
e começamos a ter um modo de vida. O que temos que perceber é que todas as
circunstâncias são criadas nas nossas mentes, mesmo a de ser monge. Roupas,
formas, identidades, nome e até a convicção das pessoas que os cercam, todo
esse conjunto de coisas sustenta algo que, como todas as outras coisas da vida,
é ilusório.
Todas as nossas identidades e
relacionamentos são construídos. O que temos que pensar é: “construímos o que
queremos ou fazemos apenas algo que nos é condicionado”. Muitas pessoas vêm me
falar que estão num relacionamento e numa vida que não desejam. No entanto,
foram elas que construíram todas as circunstâncias que sustentam suas vidas.
Quando você troca para outra circunstância, essa também é uma construção.
Deveríamos olhar lucidamente para nossa liberdade, que é capaz de manifestar
tudo. Temos uma mente liberta que é capaz de manifestar qualquer coisa.
É você quem escolhe a condição
que deseja manifestar, por exemplo, uma pessoa que deseja ser monge, que faz
seus votos e que agora recebe a oportunidade de treinar no Japão, foi ela quem
procurou essa vida. Isso pode ser fantástico, maravilhoso, pois quando ela
estiver morrendo poderá olhar para trás e dizer que construiu uma vida ideal.
Qual a vida que nos permite olhar para trás e dizer que não importam as formas
ou pessoas, eu construí e sustentei a vida que eu realmente desejei? Essa
liberdade fundamental é que é o nosso grande ganho. Quando estamos presos à uma
forma, identidade ou profissão, não temos essa liberdade. Somos como água e podemos
manifestar qualquer forma, mas todas as manifestações de nossa vida são de
certa forma legítimas, pois são possíveis, mesmo as piores.
Fonte: O Pico da Montanha é onde
estão os meus pés
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